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sábado, 7 de agosto de 2021

Família Dálea

   Em uma cidade utópica onde as pessoas trabalham perto de casa e há abundância de
alimentos, muita empatia, alto índice de aprendizagem e nada é desperdiçado; os sonhos se realizam: a casa própria, o emprego desejado, ter uma família, respeito a diversidade cultural!

  A cidade é tão limpa que as pessoas em suas ruas e casas andam com os pés no chão, sem qualquer interferência de calçados, lá não existe a tal da havaiana para punir. Nem mesmo existe o conceito de punição! Mas como assim? É isso mesmo.

  A família não é bem como a gente, e é difícil de explicar… vou falar dos Dálea, a mãe Nami é uma jovem professora universitária de tecnologia, o pai Saulo é um dedicado membro da cooperativa de alimentação, e Olívia, uma menina que adora espinafre, a filha do casal.

  Em um lindo entardecer, ao terminarem o trabalho, Nami e Saulo se encontram para buscar Olívia na escolinha comunitária. Juntos eles vão a aconchegante casa para se prepararem para o feriado da cidade Hirassol, comemorado na grande praça com pratos preparados pelos próprios moradores, que ocorrerá no dia seguinte.

  Os Dálea levarão pirulitos pela escolha de Olívia, que passou o ano todo esperando por isso. A preparação é extremamente afetiva, pois é toda feita à mão. Então, a família começou a fazer o doce com o caramelo de corante azul, amarelo e vermelho, todos juntos sempre envolvendo Olívia, que adorava cada coisa e ficava toda suja. Após embalar cada pirulito e limpar a cozinha, eles estavam cansados, felizes e satisfeitos.

 

  No dia tão esperado, a família vai como toda cidade ao encontro na bela praça. Há muita música, alegria, empatia, diversidade, equilíbrio e muitas crianças. Olívia ganha o tão aguardado doce de seu pai, e com o pirulito passa a tarde toda, pois seu encantamento por todas aquelas cores não deixa que ela o aprecie com rapidez. As outras crianças conversam com ela:

- Olívia, você não vai comer o seu?

- Não, só em casa!

- Toma uma mordida do meu! - oferece Gustavo.

- Que delícia! Obrigada!

  Ao início do crepúsculo os adultos estão em efervescente ânimo, Saulo e Nami envolvidos em uma dança apaixonada, ao som da música mais romântica de todos os tempos tomando a pista de dança, os olhos deles brilham tanto que dá para ver daqui, chamando a atenção de todos.

  De repente, as pessoas param de dançar, até que a banda silencia, ouve-se o choro e começam a procurar: o que é aquilo que nunca se ouviu?

  Nami e Saulo acabam procurando e encontrando a Olívia, e sem entender os seus berros, a pegam no colo e ela chora por 6 horas seguidas, o que depois segue para completa calma e enxugam-na as faces. Ela diz:

- Meu pirulito foi pego.

  Um enorme choque percorreu todas as pessoas que passaram a se perguntar umas às outras "Quem pegou o pirulito?", E o que se estabeleceu é que não havia sido algum cidadão dali. Os pais a cada minuto avermelharam-se e questionavam

- Como isto é possível?

- Logo com minha filha?! - subiam a voz e as pessoas se entreolhavam.

- Nós não aceitaremos! - gritou Saulo.

  Neste momento as pessoas em volta resolveram se reunir e pediram licença para conversar com eles. Em um debate aberto resolveram prender Saulo, Nami e Olívia, criando o 1° sistema carcerário e punitivo daquela cidade e foram todos para casa.

  A família não concordou e passou a noite toda gritando.

  Pelas próximas 12 horas pequenos furtos ocorreram, já que agora existia o conceito de posse e apropriação, o que ao amanhecer gerou balbúrdia e desentendimentos, e assim as pessoas passaram a se acusar. 

 De repente começaram a jogar coisas uns nos outros, ofendendo-se inclusive, quando uma mulher botou fogo num ursinho de pelúcia para jogar na multidão que se estendia pela praça, quando ela pensou: "Mas… antes já estava tão bom… dá pra fazer direito " e foi conversando com seus pares.