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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

PQ Achamos as coisas engraçadas?




Laura Lucy Dias
21/1/2016
Olá povo lindo, hoje vamos falar sobre achar coisas engraçadas, suas implicações e possíveis níveis. Sou nada para ficar divagando aqui sobre isso, mas é claro que voltarei o tema para a linha dos produtos da Cultreco, que são as nossas tiras, vídeos (em breve), charges, e tudo o mais que der na telha.
Quero divagar sobre o assunto, utilizando de pesquisa e minha experiência pessoal com as situações engraçadas, engraçadas para mim, engraçadas para os outros e não para mim, engraçadas para a maioria e não para mim, engraçado para mim e não para a maioria, e assim vai até o 42 (ops, olha uma referência engraçada para mim e outros poucos).
Começando por algo que eu sentia mas não conseguia explicar e lendo esta reportagem na Hypescience consegui entender melhor, desejo citar o trecho que fala da risada e  o motivo de coisas serem engraçadas, para nós, humanos:

A risada proveniente do humor em humanos pode ser dividido em estágios. Quando estamos ouvindo uma piada a primeira parte do humor é o fim da piada, que é um final incongruente. Depois a mente começa a solucionar o problema para interpretar a incongruência ou surpresa. Finalmente o cérebro consegue estimar estes passo que juntos formam o humor e evocam a resposta da risada.

Nós achamos engraçado aquilo que destoa de padrões (modelos, paradigmas), ou do que esperamos que aconteça, ou ainda, para tentar explicar “o que não é normal”. Na verdade, se posso acrescentar, o que achamos engraçado é o inesperado, muito mais do que aquilo que seja “estranho”, neste caso, para esclarecer o que acho, a incongruência vem no limiar de algo inesperado que pode ser estranho, destoante, fora do padrão, mas não necessariamente algo vulgar.



Referência ao Pequeno Príncipe - Trabalho de Lucy


Chegamos no ponto. A vulgaridade da incongruência. Quanta palavra hard, não é? Isso é para dizer que há um nível[1] de vulgaridade da incongruência que pode chegar ao ridículo e eu não acho outro termo para substituir o inculto[2] de forma mais correta, pois de fato não é apenas falta de cultura como conhecimento, mas sim de cultura como relação com o outro sem se preocupar em tratar com chacota. É... o velho e muito utilizado “perco a amizade, mas não perco a piada!”, espera: COMO ASSIM?
Fazer chacota com o outro é a reação primária de comédia, utilizada por grandes mestres de uma maneira genial desde os primórdios da arte, mas muito mal utilizada hoje e por pesoas nada geniais... ou geniais do ponto de vista da perversidade. Isso era e é feito de uma maneira que leva o público a entender de maneiras diferentes os estereótipos diversos que são utilizados para regular (ditar regras) de como o público deve agir, como por exemplo: você prefere ser o bobo da corte ou o herói? O bobo da corte é um estereotipo do ridículo, e quando é utilizado busca mostrar para você como certas coisas não devem ser feitas para que você não seja intitulado de ridículo.
Os estereótipos[3] são difundidos de diversas maneiras em nossa sociedade e a comédia é o jeito mais eficaz de levar a todos as regras sociais da sua cultura. Quando você ridiculariza ou faz chacota de alguém está desempenhando um papel que é de dominação e pode fazer por diversos motivos, por isso é que acredito que o nível mais baixo da comédia é a chacota.
Nossos costumes culturais e sociais acabam nos dando pistas de como inferir certas coisas e erramos muito até aprendermos. Segundo Matthew Hurley,  parafraseado no artigo de Flávio Sallem, podemos citar integralmente:

[...] nosso cérebro toma conhecimento de nosso dia-a-dia via uma série de suposições intermináveis baseadas em informações incompletas e esparsas. Ou seja, o cérebro toma palpites do mundo, o que nos simplifica o mundo, nos dá insight (conhecimento de si mesmo) crítico das mentes dos outros, e canalizam nossas decisões. Mas erros acabam por ser inevitáveis, e mesmo uma minúscula suposição errada pode abrir portas para erros maiores e mais custosos.

Sendo assim, nós buscamos entender algo que é “estranho”, como o final inesperado da piada, e o processo cognitivo (que envolve nossas gamas de cunho social, emotivo, psicológico, de conhecimento, etc) dá-nos a sensação de engraçado para regulamentar o nosso comportamento e a nossa relação com as coisas que são diferentes do que esperamos, ou mais ou menos isso.
Quando alguém cai, li uma vez e não lembro onde, o impulso de rir é uma maneira biológica e impulsiva de avisar ao nosso grupo de que houve um acidente, porém, está tudo bem com o integrante do grupo. O que o cara da queda sente é outra coisa a se pesquisar.
Esse nível é quase animal, por isso entendo que é um nível inicial da relação da comédia e do engraçado. Quando a chacota vem penas pela chacota criamos uma comédia extremamente sem finalidade de regulamentação que não a nossa própria necessidade de atenção e falta de boas maneiras de lidar com as inferências que realizamos nos diversos campos de relações de nossas vidas. Fazer chacota de alguém pode acabar trazendo uma relação de poder entre as pessoas envolvidas, o que em geral necessita de plateia.
Falar de dominação e manipulação não é o tema principal aqui, mas de fato não pode passar despercebido, assim como qualquer coisa que o ser humano faz e acaba por transformar para se beneficiar com aquilo, seja de maneira perversa ou não.
Quando temos conhecimentos maiores do mundo em que a coisa engraçada (tira, charge, queda, filme, escolinha do professor Raimundo – vish – piada nerd, piada sobre física quântica e assim por diante) é gerada, seja como informação, reflexão, conhecimento de causa ou o que mais for necessário, aquilo que é engraçado e inesperado torna-se algo diferente, um nível diferente de humor. Se eu faço uma piada sobre a resposta para a pergunta primordial sobre a vida, o universo e tudo mais e você não entende, não irá encontrar o estranho, inferir e corrigir essa informação inesperada em sua cabeça, impedindo-o de rir no final.
Por isso, aquilo que eu não acho engraçado e você acha engraçado provém de experiências pessoais e de nossa individualidade (assim como nossa coletividade, certamente), e quanto menos achamos as coisas mais entendidas engraçadas pelo grupo, talvez tenhamos uma capacidade diferenciada de refletir sobre aquilo: piada racista, sexista, homofóbica e demais tipos que trazem a ridicularizarão para segregar e não para trazer reflexão, e que acaba alienando o grupo maior em prol do grupo menor (aquele que tem interesse de dominar e manipular para se beneficiar perversamente) e não gera reflexão, apenas regulamenta o comportamento de um grupo em relação ao outro grupo. Isso também é ferramenta do FASCISMO.
Falando do fascismo e da onda do fascismo que se utiliza da piada preconceituosa, podemos citar a Marcia Tiburi e a questão do empobrecimento e do autoritarismo. O autoritarismo se dá quando nós aceitamos uma verdade como nossa e a impomos ao outro, e a comédia facilita fazer com que mais pessoas agreguem a nossa verdade a si e a tomem como a sua e a reproduzam, a filósofa diz que a : “[...] Interrupção que se dá, por sua vez, pelo empobrecimento das condições nas quais o diálogo poderia acontecer [...]”. A questão do diálogo é a relação direta sobre receber uma mensagem e interagir com ela de maneira a refletir e devolver uma reflexão que não seja a de aceitação pura do que foi imposto, já o fascista interrompe o diálogo de forma autoritária e com imposição. Sendo assim, quando esses programas de televisão  de ridicularizarão (que ainda não foram citados aqui) chegam com uma afirmação e se dizem autoridade do assunto e apenas aceitamos aquilo por não sermos especialistas e nos sentirmos, geralmente, incapazes de refletir sobre aquilo  passamos a aceitar a incongruência de maneira dócil.
Veja o artigo sobre manipulação e dominação aqui, ele começa com a “Estratégia da diversão, não sei se o artigo é original dessa página, mas veja o que diz:

Elemento indispensável ao controle social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas mais importantes e das modificações decididas pelas elites políticas e econômicas, graças a uma enxurrada ininterrupta de distrações e informações insignificantes. Se você observar bem a maior emissora de TV do Brasil cada vez mais adota um tom divertido em praticamente todos os seus programas, induzindo a população a encarar a realidade como algo lúdico.

É uma maneira de infantilizar o público, visto que o lúdico é mais fácil de aceitar do que a verdade e os acontecimentos crus. O empobrecimento de que fala a Marcia Tiburi mostra que “Fechado em si mesmo, o fascista não pode perceber o ‘comum’ que há entre ele e o outro, entre ‘eu e tu’. Ele não forma mental e emocionalmente a noção do comum, por que para que esta noção se estabeleça, dependemos de algo que se estabelece como uma abertura ao outro.”. Esses programas de humor que não trazem nada além de “comédia por comédia” não te englobam no comum, te individualiza, segrega você do outro e diz que você não pode refletir sobre um humor mais rico.
Não achar graça no humor feito pelo humor pode ser um passo para a sua libertação da alienação segregadora, da manipulação de opinião e conhecimento e ainda permite que se divirta com coisas mais “sérias” como a literatura de Machado de Assis, que é extremamente divertida e ácida, INCONGRUENTE ao extremo.
Ah, acredita que Edgar Allan Poe é engraçado? Não no sentido comum da piada, mas num nível muito sutil entre a literatura e a relação do leitor com ela. Você pode enxergar isso lendo o Ensaio do Poe sobre a sua produção do poema “O corvo”, a maneira que ele divaga e fala de sua composição é leve e demonstra que o medo não é o objetivo principal da execução de seu trabalho, ele se divertiu muito ao escrever cada uma de sua obra. Acho que podemos dizer que o absurdo é a principal incongruência na obra de Poe, e o como ele nos convence sobre ela e a aceitá-la.
Acredito que Machado também é engraçado. Se você ainda não leu “O Alienista”, “A cartomante”, “Memórias póstumas de Bras Cubas”, “A igreja do diabo” entre outros, desconhece o contexto histórico de produção do autor e ainda não entende muito do que ele possa falar, achará enfadonho. Mas uma boa ajuda é se importar mais com o comum, buscar enriquecer a sua relação com o incongruente e ler algumas análises de alguns leitores para permear a sua reflexão e leitura. Eu sempre dou muitas risadas lendo Machado, assim como outras emoções que ele causa.
Bem, sobre o humor da Cultreco: já ouvi dos meus leitores betas (muitos dos quais assistem Pânico na TV) que é um humor muito nerd, que poucas pessoas entenderão as referências, muitas vezes não causa a reação da risada imediata, levando a pensar um pouco sobre ele, e até me disseram “Coitada” sobre a tira da Cassia Eller e o David Bowie, mas aí está a minha explicação, a incongruência e seu nível.
OS: Eu amo a Cassia Eller, entendo que sua música em questão é sobre ser você mesmo, aí é que está a incongruência.


[1]  Estou chamando assim por falta de conhecimentos aprofundados, meu interesse é despertar o seu interesse e reflexão, o aprofundamento e especialização aqui fica para outro momento da minha parte, e da sua?
[2] Pobreza de conhecimentos, não burro, hein?!
[3] Pesquise sobre Carl Jung, outros conceitos que podem ajudar são: inconsciente coletivo e máscaras de Jung.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Não sou um chapeu!


    A Cultreco também faz referências literárias, e essa é uma charge engraçadinha e para refletir, com uma citação do livro que a inspira: O pequeno príncipe. 
 Este é o homem vaidoso, do livro "O pequeno príncipe". Já em sua cabeça há um personagem muito importante, a jiboia comendo um elefante. Você já leu o livro? É um livro mundialmente conhecido e que merece atenção, a cada leitura você se tornará um leitor diferente.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

"Eu queria ser Cassia Eller" e David Bowie

    Enfim, a versão colorida! Depois da homenagem que fizemos, receber em seguida a notícia da morte de David Bowie trouxe-me muita tristeza, a mesma que sinto todos os dias desde que a Cássia Eller se foi.






Tira inspirada nessa música: