Assisti ao filme em dois momentos, precisando parar em torno dos 57 minutos e terminar no dia seguinte, por conta do meu cansaço e por conta da narrativa, que eu esperava ser tão assustadora (e maçante, positivamente maçante) quanto o "Anticristo" e o meu preferido "Melancolia". DEvido aos comentários que ouvi, de que era um filme machista, estava preocupada que fosse terrível como "Dogvile", mas de fato sae algo posso dizer, é que foi além destas expectativas.
Violento, sim. Necessariamente violento? Bem... que violência é necessária? Não é um thriller, portanto, achei que as doses foram pesadas de maneira muito agradável sim, e pensadas com uma correta visão pelo diretor, ainda mais pelo que eu, em minha pequenez de espectadora que parte logo para as referências e relaciona às obras diretas da sua gama de conhecimento mais comum, posso dizer que tenho um repertório até que bom de serial killer para relacionar e que eu acredito que converse diretamente com o que o Lars von Trier queria para um público mais abrangente de seu filme, ao menos, ele me atingiu. (bang!)
Para começar vamos falar do cunho dual entre o obscuro Verge e o personagem principal que se põe
a conversar e aí no escuro um quer ouvir o que o outro tem a dizer, aí a história se inicia colocando Uma Turman linda e irritante para morrer espalhafatosamente com um macaco hidráulico na fuça, no meio da estrada. O cara sabe da gama de sangue falso que impera na carreira dessa mulher fantástica, e colocar a nossa ninja na cena inicial, é para deixar os cabelos dos braços arrepiados, curti, a relação e a atuação foram extremas e os atores, mano, não dá para dizer se haveriam outros melhores.
Daqui a narrativa segue mostrando uma pegada com um entrelace de um
clipe alá Bob Dylan e seus cartazes, conversando com uma época específica (1965) que remete diretamente ao assassino Ted Bundy*. Veja, ora pois, que o nosso personagem Jack não é um Ted, no geral, e a proposta vai além disso, e nem mesmo vou mencionar a casa aqui, de uma maneira profunda.
Acho que eu só soube do Ted quando a Netflix fez a série. E fiquei horrorizada com as possibilidades que a realidade podem ter de absurda. Ainda mais pelo fato de eu ser apaixonada pelo Hannibal Lecter como personagem, e poder conectar muitos aspectos da história desse serial killer real à história ficcional. e isso que traz a conexão direta com Jack, o Dragão vermelho e Willian Blake, não sei se há mais locais, mas a minha relação vem do filme (há livro também!), que é meu preferido da trilogia silêncio dos inocentes, com meu amor Edward Norton.
O assassino em série nesse filme quer ser reconhecido e procura a fama, e no filme que resenho quer a fama também, por isso vemos a trilha com David Bowie, "
Fame", que nas primeiras vezes muito me irritou, pois não gosto que brinquem com isso, mas aí, com o passar das cenas fica inegável que as características psicológicas do Jack mostram um psicopata com toc (o que dá o toCque ridículo) e mostra a sua fragilidade como assassino, visto que ele é apenas um babaca, diferente como todas as construções da época do período anterior fazem, como o próprio Ted Bundy e o Lecter, por exemplo, e passam a ser como o Psicopata americano.
Nesse sentido a construção do psicopata como personagem é uma linha de tempo das características de supervalorização e ridicularização do assassino em série como elemento ficcional, acho que podemos até mesmo colocar nesse meio "pânico", que é um filme muito bom que permeia aí entre um e outro.
Quando Verge questiona a capacidade do assassino em lidar com presas de valor maior como homens, ele mostra que pode fazer e só avacalha com um homem negro, um asiático e outros homens, alinhando-os, mas o que acontece? Ele não prova a sua fala de que os mata. "Matei muitos", faz toda a ode mas não prova a tese, além de construir uma clara posição racista e xenofóbica ali, e incapaz de provar é quando ele constrói a casa com a "matéria mais pura", abre uma porta que nunca abria, onde está o interlocutor, um velho que é Virgílio, e por fim escapa por um buraco que não havia, para ir parar num inferno de Dante, um caos, cenas lindas, para que na ponte que está quebrada, um caminho que Virgílio o propõe e um caminho que ele vê e acha que é o mais inteligente de todos e muitos já tentaram, mas Verge diz: "muitos já tentaram, mas dizem que nunca conseguiram chegar lá", mesmo assim Jack vai por lá, e o que acontece é o que se espera das obras de final rápido e assim se faz, Jack cai dali para o fogo das entranhas do inferno.
Sobre o machismo, bem... é um filme sobre serial killer, falando de uma linha temporal de filmes sobre serial killer, em um mundo de um período que é linear. Localizamo-nos num mundo tal qual. Minha opinião? Bem, assim como anticristo, é um filme que assusta muito, mas sem as devidas fontes e pesquisas, talvez não traga proveito para o espectador, mas o desfecho com "keep the road jack" deixa bem claro a postura da equipe e diretor, não é? Quando tocou eu vibrei.
*Além de ser um serial que só matava mulheres ele se fez com a mídia para se promover e postergar a sua sentença, fez do espaço midiático uma balbúrdia e aproveitou-se desse espaço novo, que foi a primeira vez que um julgamento foi televisionado, para confundir a todos, inclusive se defendendo, sem advogado de defesa.